sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quando sentir de mais e não sentir estão mais perto do que a percepção do "normal", a incapacidade do seu controlo prende as emoções dentro do músculo deixando apenas espreitar nos espelhos que já ninguém olha.  Tenho raiva do futuro, não se pára para concertar o que está claramente partido.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Caça


A partir de agora vou apanhar ideias e coleccioná-las. Tantas as que passam zombando em frente aos meus olhos preguiçosos de tecnológica letargia, saltando de um cérebro febril, frenético e doente , ansioso de um mistério maior que eu e mais. Vou agarrá-las e deixá-las estender a superfície e o profundo num papel insignificante, dissecá-las vivas fazendo-as gritar as suas entranhas mais escondidas, amadurecê-las ao sol, e no fim espeto-as com um alfinete para exposição própria do próprio, num narcisismo curioso próprio de quem se quer conhecer. Talvez aí comece o sentido e seja atingida uma espécie de verdade necessária à manutenção da sanidade, partindo do pressuposto que alguma vez houve alguma. Vou fazer um quadro, a análise de um psicopata, sociopata, demente de depressiva melancolia e ferveroso de significado sujeito. Assim explicarei a minha loucura, um campo de alfinetes escorrendo um "eu" oculto.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Estranho


Por vezes quando estamos em situações estranhas somos pessoas que sabemos que não somos nós.
A consciência disso corta por dentro e faz-nos sentir a impotência da nossa vontade face a limites geográficos e sociais. Dizemos o que jurámos não dizer; fazemos o que jurámos não fazer, e esquecemos quem nos fez o que fomos deixando quem gostámos de ser ser esquecido também.
A desvantagem de ser consciente é a percepção da evolução e o gradual realizar de que já não nos conhecemos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A ti que me marcaste


"És só cérebro".

E que és tu senão isso? Pedaço de carne móvel e quente. Não tenho culpa se a minha racionalidade abafa o teu emocionismo e te minora aos teus olhos. És tu, não eu. Do teu mundo tentas ver-me como algo que não sou. Tenho o meu mundo também, as minha raizes morais que não vou cortar por um sorriso teu. Aceita. Tenta perceber que farias o mesmo no meu lugar, acho... Se não farias és mais fraco do que te julguei.

Não me ofendes como querias, eu gosto de ser racional. Permite-me assentar os pés em terra firme por cada passo que dou. Poderá ser mais dificil agarrar um sentimento, mas quando agarro é pleno. Não foi o sentimento que tu querias, e isso magoa-te, mas é pleno. Perdes tudo por não querer o que te dou, perdes por me quereres em partes. Não sou uma parte, sou um todo, e tudo e mais que não compreendo. Como queres compreender tu?

Não sou um sorriso de lábios vermelhos, sou uma unha que deixa traços de sangue na tua pele primeiro para que sintas frescura depois. Se não aguentas a ferida afasta-te. Não me vais conseguir mudar. Eu mudei-me por ti e não de acordo com os teus planos, e mudei-te também, desculpa. Sincera a ti apenas, amigo, mais do que a mim. Não podes esperar que uma lagarta vire coisa outra. E porém... (mas as cores não serão as que pintaste)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Um peso


Que coisa esta que me cobre e abafa, como um grande manto negro que me tira a inocência e me enche de vontade de ser criança outra vez. Outros á minha volta tentam ser também eles crianças, tentam fazer de mim o adulto que lhes pega e afaga o rosto. Obrigam-me a dizer, obrigam-me a dar o passo em frente por eles, pois se houver um precipicio adiante serei eu a cair. Gostaria de ter essa habilidade tão bem desenvolvida quanto eles, seria eu a observa-los cair então. Cruel pensamento, cruel, cruelmente alegre á minha alma. Gostava sim, seria grandioso.

Este peso moral que me ata os tornozelos juntos, com elos de aço, e me impede de correr. Longe, fugir. Com mentiras conseguiria escapar, sem dúvida. Não fosse o perseguidor ter como reféns os que significam para mim a vida (ou tal acho... o que é a vida afinal senão o desejo de significado). Aponto à tempora e espero que o tambor esteja vazio. Um palpite, a lógica não serve de total apoio em questões sociais. Roleta russa jogada com decisões, tantas erradas como as balas que tenho cravadas no crânio.

Não quero ser eu a dizer, não tenho que ser eu! Porque esperam imóveis que seja eu? O que odeio mais que decidir é imobilidade psicológica. A minha responsabilidade como código de acesso, usem a vossa. Âncora que tantas vezes me impede de ascender, impediu... Larga-me, deixa-me ser por mim. Responsabilidade. Palavra feia, tantas silabas para disfarçar o que realmente é, uma corda, algemas. Um peso que me prende a tudo que não posso ver cair. Antes caia eu. Suicida viva, por vós. Para que sejam crianças.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Castigo


O primeiro que fiz foi chorar. Uma consciência da pena talvez, e vivia.


A vida, saboreio-a como um faminto que abre a boca a um pedaço de pão seco, que pica na lingua. E cheiro bolos, distante...


Quem me pôs aqui não era, por certo, familiarizado com Von Liszt, ou rejeitava as suas teorias, pois eu não sei o que devo aprender aqui para remediar o que não sei que fiz ou pensei, ou não fiz nem pensei. Uma força que não vem de mim abre-me a boca e mastiga o pão seco, mas eu cheiro bolos, e finjo um sorriso ao que tenho nas mãos, que me apetece cuspir e pisar até não ser mais que pó neste chão.

Aqui as nossas vestes nunca são brancas, mas manchadas de vermelhos de outros e um pouco do nosso. Batas de manicónio que mostramos com orgulho a quem nos olha. Mostramos as manchas que crescem, e ficamos pálidos de escorrendo sangue que não é nosso e faz padrões no branco que rimos ao mostrar aos demais lividos.

Algum do que me saltou nos lábios quando cortei soube-me a bolos. Ânsia de sentir um pouco mais que secura e engoli-o, sofregamente. Toquei uma emoção e senti-me cruel da minha consciência, o que bebi era também meu, mais uma mancha. Esse cheiro insiste em não desaparecer e faz-me olhar para cima e perguntar o porquê de ser quando não sou. Ainda tenho migalhas na mão.

As mangas encurtam e o resto rasga. Não vemos as linhas a cair como folhas no Outono até sermos despidos. Nus, com o corpo coberto de cicatrizes de feridas que não deixamos sangrar com medo de sujar o linho. Enrugados pedintes, estendemos os braços e pedimos um pouco mais daquele pão seco que agora nos queima o orgulho. "Mais, um pouco mais" - gritamos, suplicando por mais cortes na pele.

Eu não quero mais. A minha pena é ser, para que me dilacerem e suguem e que sujem as vossas roupas na vossa procura. Eu encontrei, não sei o quê mas está lá, mais alto. Se não mo dão rebelo-me, não aceito mais migalhas de secura. Deixo-me cair, mas a força recusa-se a sair do meu corpo. Já não quero saber como é o sentimento. Cansei de o inventar da vontade que tinha. Só quero ir. Se vos faz mais enganados de felicidade firam-me e bebam do meu sangue, sabe a bolos, (eu sei, já bebi), que nunca vou agarrar.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Memória


Lembro-me de um dia em que subimos aquela montanha pintada de verde e amarelo.

Naquele dia de Primavera o sol brilhava intensamente e o cheiro floral que pairava no ar convidava-nos a experimentar a natureza. Decidimos ir. Puseste o teu vestido azul de tecido leve, as sandálias com corda e o chapéu de palha com a fita turquesa; estavas linda, devia ter-te dito isso na altura, mas estava perdida na minha própria vaidade, talvez exagerada para a minha curta idade. Pegaste no meu corpo fragil, de criança de sete anos, puseste-me em cima da cadeira e arranjaste-me como se eu fosse uma boneca de porcelana, com tanto cuidado e carinho que saía das tuas delicadas mãos coradas pelo sol.

Saímos de casa, e logo a brisa de Maio nos trouxe flores, frutos e pinho (cheiro da mossa terra quando ainda era natureza). O vento afagou o teu rosto de trigueira e revolveu o teu cabelo hispânico, e tu respiraste-o, como que agradecida por o poderes ter. Olhei-te e vi o teu sorriso, tão raro, de verdadeira felicidade, não o via há tanto tempo que fiquei feliz com a tua felicidade.

Percorreste a floresta por entre as árvores, rochas graniticas e o chão traiçoeiro coberto de musgo muito verde. Ias ensinando-me os segredos e mostrando-me coisas em que eu nunca tinha reparado, como os ninhos dos piscos entre os muros. O sol queimava-nos a pele, as nossas roupas claras reflectiam a luz, pareciamos duas figuras angelicais de um quadro de Botticelli.

Para ti o vento não era só ar, era um amante; o sol não era uma estrela, era um amigo; o verde não era uma cor, era a esperança. Não eras feliz, mas estavas feliz. Isso bastava aos meus olhos cegos de criança, que me faziam ver o nosso mundo como se fosse maravilhoso. Ensinaste-me a amar aquilo que tu amavas e eu não posso ter hoje, mas que ficou gravado na alma como o olhar maternal que me ofereceste quando te lancei outro de interrogação. Foi essa a explicação que me deste até hoje, e a unica que me satisfaz. Talvez a verdade me magoe demasiado para tu suportares, mas nada mais quero enquanto tiver a tua imagem no vestido azul e com o sorriso sincero.